Qual é a sua relação com seus amigos
mais íntimos? Certamente é de fraternidade e companheirismo – ao menos
espera-se isso. Vocês provavelmente procuram fazer atividades juntos, como
futebol, videogame, cinema. Enfim, você certamente passa um bom tempo com seus
amigos. Quando não estão juntos, conversam por WhatsApp, não é verdade? Pois bem, a maioria das amizades acontecem
assim – queremos conviver com quem gostamos. O que acontece quando você deixa
de se relacionar com uma pessoa? Se você disser que nada, reavalie sua
resposta. Se dois amigos deixarem de se falar, a amizade começa a definhar.
Pode ser que a confiança prossiga, mesmo que trôpega. Mas a realidade é que
aquela intimidade nutrida se esfria aos poucos. Assuntos que antes você tratava
deixam de ser abordados. Já não há mais aquela ansiedade de contar a última
novidade.
Depois dessa breve introdução, você
provavelmente está pensando que vou falar sobre amizade. Minha sutil e breve
resposta é: sim e não. “Sim” por se tratar de uma amizade. “Não” por não se
tratar de qualquer amizade. Não é uma mera ou simples amizade, mas uma relação
mais necessária que qualquer outra. Uma relação que, se esfriada, pode
dificultar a pulsação de sua vida. Uma amizade em que você pode confiar em
qualquer momento ou situação. Quero falar da sua amizade com o melhor amigo,
Deus.
Antes de qualquer coisa, pense o
seguinte: quem é Deus. Todos nós temos uma noção de Deus, mas há quem, aliás,
muita gente, que tem uma noção errada do Senhor. Há aqueles que veem Deus como
um senhor barbudo e bonzinho que é “de boa” com todo mundo. Outros pensam que é
um senhor barbudo, também, mas que nutre uma rigidez absurda e que joga um raio
em cima de quem não faz o que ele ordena.
O Catecismo Maior de Westminster, um
dos Símbolos de Fé adotados pela Igreja reformada em todo o mundo (cuja maior
expressão no Brasil é a Igreja Presbiteriana), nos dá uma ótima definição.
Deus
é espírito, em si e por si infinito em seu ser, glória, bem-aventurança e
perfeição; todo-suficiente, eterno, imutável, insondável, onipresente, infinito
em poder, sabedoria, santidade, justiça, misericórdia e clemência, longânimo e
cheio de bondade e verdade.
Quero destacar alguns aspectos que o
catecismo nos mostra: Deus é “infinito em santidade, justiça, misericórdia e
clemência, longânimo e cheio de bondade e verdade”.
Por ser santo e justo, Deus odeia o
pecado. Não é odiar como uma raiva passageira de dois irmãos que brigam mas,
vinte minutos depois, estão abraçados novamente. Não é um odiar qualquer. Só
entendemos o tamanho de tal repulsa ao ver o preço que Deus requer para pagar o
pecado. Ele requer sangue, morte e pureza. Ele requer santidade e não hesita em
castigar o ímpio.
Ao mesmo tempo em que o Senhor é
santo e justo, ele também é misericordioso “e clemente, longânimo e cheio de
bondade [...]”. Da mesma forma que
compreendemos a santidade e justiça de Deus mediante o preço que ele requer
pelos pecados, só entendemos sua misericórdia e bondade mediante o sacrifício
feito por ele mesmo para agraciar os seus filhos.
O Senhor Jesus Cristo, Deus Filho, filho
de Deus Pai, foi comissionado para uma grande missão. Sem hesitar, ele deixou a
sua glória e veio habitar em um mundo pecaminoso e mal. Como se não bastasse,
habitou entre nós como homem. Daí vem o mistério: Jesus Cristo, verdadeiro Deus
e verdadeiro homem. Ele cumpriu o que o Pai exigia: santidade (Lv 11.44a, 1Jo
3.8-9). Mesmo vivendo em um mundo caído e sofrendo as consequências do pecado –
Jesus sofreu –, o Messias permaneceu sem pecado. Não ofendeu ao Pai em qualquer
momento. Mesmo sendo Santo, o Senhor padeceu sobre o madeiro. Seu corpo fora
traspassado por pregos, sua cabeça perfurada por espinhos. Seu sangue real e
puro foi exposto e derramado sobre dois pedaços de madeira. Naquele dia, o
Filho de Deus sofreu a devida punição pelo pecado. Sendo puro, fora feito
imundo pelos filhos de Deus, aqueles que desde antes da criação do mundo foram
escolhidos dentre a humanidade para fazerem parte da família de Deus (Ef
1.4-7). Ao terceiro dia, o Messias venceu aquela que assombrava os homens desde
a queda de Adão, a morte (Rm 5.12; Mc 16.2; 1Co 15.54). Vemos a graça de Deus,
a sua bondade e misericórdia, quando entendemos que ele mesmo se entregou na
cruz. O Pai enviou seu Filho amado para morrer pelos pecadores. Que amor é
esse? João 3.16 nos diz como é esse amor:
Porque
Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo
o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
É impossível entender esse amor sem
cair de joelhos. Somente os filhos de Deus podem entender esse amor. É esse
Deus que nos chama de amigos. João 15.15-16 nos diz:
Já não vos chamo
servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado
amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer. Não fostes
vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e
o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome,
ele vo-lo conceda.
Se você não é cristão, pense em tudo
o que você leu até aqui. Pense em tão grande amor. “Ninguém tem maior amor do
que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos. Vós sois meus
amigos, se fazeis o que eu vos mando” (Jo 15.13-14). Se você é cristão, pense
em como anda o seu relacionamento com Deus. Como está sua consideração por tão
grande amor? Se algum amigo seu der a vida por você, o livrando da morte,
certamente você será eternamente grato a esse amigo e nutrirá tão grande
gratidão que passará o restante da vida querendo fazer o bem a essa pessoa,
estar junto a esse indivíduo. Se tratamos assim amigos que talvez possam nos
salvar da morte física, não deveríamos tratar com muito mais gratidão aquele
que nos livrou da morte ETERNA?
Como demonstrar gratidão a Deus por
tão grande amor? Quero mostrar duas formas: obedecendo-o e sendo íntimo dele.
Cristo nos diz que somos seus amigos se fazemos o que ele nos manda (Jo 15.14).
Obedecer é uma forma clara de ser grato. Outra forma não menos importante, mas correlacionada,
é nutrir intimidade com Deus. Como você convive com seus amigos? Seu
relacionamento com o Senhor deve ser maior que qualquer outro. Uma forma
prática disso é dedicar o primeiro momento do seu dia a Deus. Antes de tomar o
café da manhã, colocar-se na presença do Pai e orar a ele. É colocar nossas
vidas à disposição daquele que nos sustenta e derramar nosso ser sobre ele. É
confiar cada parte de si ao Senhor. É entender que sem ele nada somos e nada
podemos fazer (Jo 15.5b). É o reconhecimento de nossa pequenez e necessidade.
Eu sou pobre e
necessitado,
porém o Senhor
cuida de mim;
tu és o meu
amparo e o meu libertador;
não te detenhas,
ó Deus meu! (Salmo 40.17).
Ser grato a Deus é renunciar toda a
nossa prepotência. É entender que somos pobres e necessitados. É confiar ao
Senhor todo o nosso ser. Isso não é fácil, mas será mais difícil se não
começarmos. Como confiar em alguém que você não tem intimidade? A oração é o
meio pelo qual adquirimos intimidade com o Pai. Nosso relacionamento com Deus
deve ser grande ao ponto de entender que a vontade dele é o melhor para nós,
mesmo que difícil no primeiro momento.
Como ouvir a voz de Deus? O Senhor
não fala conosco como falava aos profetas. A forma de Deus falar conosco é a
sua Palavra. A Bíblia é a sua Palavra. Esforce-se em ouvir a voz de Deus. Leia
as Escrituras. Deus nos dá os meios de graça: a Palavra, a Oração e os
Sacramentos. Através da Palavra, ouvimos o Senhor. Pela oração, falamos com
ele. Nos sacramentos, afirmamos que pertencemos à Igreja de Cristo e somos
nutridos por ele. O mais interessante é que cada meio de graça depende um do
outro. Se alguém é ativo na Igreja, participa dos sacramentos, mas não ora, não
tem relação íntima com Deus. Quem se dedica no estudo da Palavra do Senhor, mas
não ora, não passa de um estudioso. Quem ora e lê a Bíblia, mas não participa
dos sacramentos, não é nutrido totalmente, não está atado corretamente à Igreja
de Cristo, que é a mãe de todos os crentes – como nos diz Calvino.
Como está seu relacionamento com
Deus? Pense nisso.
Sem. Christofer F. O. Cruz
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