terça-feira, 2 de junho de 2015

O convívio que dá a vida

            Qual é a sua relação com seus amigos mais íntimos? Certamente é de fraternidade e companheirismo – ao menos espera-se isso. Vocês provavelmente procuram fazer atividades juntos, como futebol, videogame, cinema. Enfim, você certamente passa um bom tempo com seus amigos. Quando não estão juntos, conversam por WhatsApp, não é verdade? Pois bem, a maioria das amizades acontecem assim – queremos conviver com quem gostamos. O que acontece quando você deixa de se relacionar com uma pessoa? Se você disser que nada, reavalie sua resposta. Se dois amigos deixarem de se falar, a amizade começa a definhar. Pode ser que a confiança prossiga, mesmo que trôpega. Mas a realidade é que aquela intimidade nutrida se esfria aos poucos. Assuntos que antes você tratava deixam de ser abordados. Já não há mais aquela ansiedade de contar a última novidade.
            Depois dessa breve introdução, você provavelmente está pensando que vou falar sobre amizade. Minha sutil e breve resposta é: sim e não. “Sim” por se tratar de uma amizade. “Não” por não se tratar de qualquer amizade. Não é uma mera ou simples amizade, mas uma relação mais necessária que qualquer outra. Uma relação que, se esfriada, pode dificultar a pulsação de sua vida. Uma amizade em que você pode confiar em qualquer momento ou situação. Quero falar da sua amizade com o melhor amigo, Deus.
            Antes de qualquer coisa, pense o seguinte: quem é Deus. Todos nós temos uma noção de Deus, mas há quem, aliás, muita gente, que tem uma noção errada do Senhor. Há aqueles que veem Deus como um senhor barbudo e bonzinho que é “de boa” com todo mundo. Outros pensam que é um senhor barbudo, também, mas que nutre uma rigidez absurda e que joga um raio em cima de quem não faz o que ele ordena.
            O Catecismo Maior de Westminster, um dos Símbolos de Fé adotados pela Igreja reformada em todo o mundo (cuja maior expressão no Brasil é a Igreja Presbiteriana), nos dá uma ótima definição.

Deus é espírito, em si e por si infinito em seu ser, glória, bem-aventurança e perfeição; todo-suficiente, eterno, imutável, insondável, onipresente, infinito em poder, sabedoria, santidade, justiça, misericórdia e clemência, longânimo e cheio de bondade e verdade.

            Quero destacar alguns aspectos que o catecismo nos mostra: Deus é “infinito em santidade, justiça, misericórdia e clemência, longânimo e cheio de bondade e verdade”.
            Por ser santo e justo, Deus odeia o pecado. Não é odiar como uma raiva passageira de dois irmãos que brigam mas, vinte minutos depois, estão abraçados novamente. Não é um odiar qualquer. Só entendemos o tamanho de tal repulsa ao ver o preço que Deus requer para pagar o pecado. Ele requer sangue, morte e pureza. Ele requer santidade e não hesita em castigar o ímpio.
            Ao mesmo tempo em que o Senhor é santo e justo, ele também é misericordioso “e clemente, longânimo e cheio de bondade [...]”.  Da mesma forma que compreendemos a santidade e justiça de Deus mediante o preço que ele requer pelos pecados, só entendemos sua misericórdia e bondade mediante o sacrifício feito por ele mesmo para agraciar os seus filhos.
            O Senhor Jesus Cristo, Deus Filho, filho de Deus Pai, foi comissionado para uma grande missão. Sem hesitar, ele deixou a sua glória e veio habitar em um mundo pecaminoso e mal. Como se não bastasse, habitou entre nós como homem. Daí vem o mistério: Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Ele cumpriu o que o Pai exigia: santidade (Lv 11.44a, 1Jo 3.8-9). Mesmo vivendo em um mundo caído e sofrendo as consequências do pecado – Jesus sofreu –, o Messias permaneceu sem pecado. Não ofendeu ao Pai em qualquer momento. Mesmo sendo Santo, o Senhor padeceu sobre o madeiro. Seu corpo fora traspassado por pregos, sua cabeça perfurada por espinhos. Seu sangue real e puro foi exposto e derramado sobre dois pedaços de madeira. Naquele dia, o Filho de Deus sofreu a devida punição pelo pecado. Sendo puro, fora feito imundo pelos filhos de Deus, aqueles que desde antes da criação do mundo foram escolhidos dentre a humanidade para fazerem parte da família de Deus (Ef 1.4-7). Ao terceiro dia, o Messias venceu aquela que assombrava os homens desde a queda de Adão, a morte (Rm 5.12; Mc 16.2; 1Co 15.54). Vemos a graça de Deus, a sua bondade e misericórdia, quando entendemos que ele mesmo se entregou na cruz. O Pai enviou seu Filho amado para morrer pelos pecadores. Que amor é esse? João 3.16 nos diz como é esse amor:

Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê  não pereça,  mas tenha a vida eterna.

            É impossível entender esse amor sem cair de joelhos. Somente os filhos de Deus podem entender esse amor. É esse Deus que nos chama de amigos. João 15.15-16 nos diz:

Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer. Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros  e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda.

            Se você não é cristão, pense em tudo o que você leu até aqui. Pense em tão grande amor. “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos. Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando” (Jo 15.13-14). Se você é cristão, pense em como anda o seu relacionamento com Deus. Como está sua consideração por tão grande amor? Se algum amigo seu der a vida por você, o livrando da morte, certamente você será eternamente grato a esse amigo e nutrirá tão grande gratidão que passará o restante da vida querendo fazer o bem a essa pessoa, estar junto a esse indivíduo. Se tratamos assim amigos que talvez possam nos salvar da morte física, não deveríamos tratar com muito mais gratidão aquele que nos livrou da morte ETERNA?
            Como demonstrar gratidão a Deus por tão grande amor? Quero mostrar duas formas: obedecendo-o e sendo íntimo dele. Cristo nos diz que somos seus amigos se fazemos o que ele nos manda (Jo 15.14). Obedecer é uma forma clara de ser grato. Outra forma não menos importante, mas correlacionada, é nutrir intimidade com Deus. Como você convive com seus amigos? Seu relacionamento com o Senhor deve ser maior que qualquer outro. Uma forma prática disso é dedicar o primeiro momento do seu dia a Deus. Antes de tomar o café da manhã, colocar-se na presença do Pai e orar a ele. É colocar nossas vidas à disposição daquele que nos sustenta e derramar nosso ser sobre ele. É confiar cada parte de si ao Senhor. É entender que sem ele nada somos e nada podemos fazer (Jo 15.5b). É o reconhecimento de nossa pequenez e necessidade.

Eu sou pobre e necessitado,
porém o Senhor cuida de mim;
tu és o meu amparo e o meu libertador;
não te detenhas, ó Deus meu! (Salmo 40.17).

            Ser grato a Deus é renunciar toda a nossa prepotência. É entender que somos pobres e necessitados. É confiar ao Senhor todo o nosso ser. Isso não é fácil, mas será mais difícil se não começarmos. Como confiar em alguém que você não tem intimidade? A oração é o meio pelo qual adquirimos intimidade com o Pai. Nosso relacionamento com Deus deve ser grande ao ponto de entender que a vontade dele é o melhor para nós, mesmo que difícil no primeiro momento.
            Como ouvir a voz de Deus? O Senhor não fala conosco como falava aos profetas. A forma de Deus falar conosco é a sua Palavra. A Bíblia é a sua Palavra. Esforce-se em ouvir a voz de Deus. Leia as Escrituras. Deus nos dá os meios de graça: a Palavra, a Oração e os Sacramentos. Através da Palavra, ouvimos o Senhor. Pela oração, falamos com ele. Nos sacramentos, afirmamos que pertencemos à Igreja de Cristo e somos nutridos por ele. O mais interessante é que cada meio de graça depende um do outro. Se alguém é ativo na Igreja, participa dos sacramentos, mas não ora, não tem relação íntima com Deus. Quem se dedica no estudo da Palavra do Senhor, mas não ora, não passa de um estudioso. Quem ora e lê a Bíblia, mas não participa dos sacramentos, não é nutrido totalmente, não está atado corretamente à Igreja de Cristo, que é a mãe de todos os crentes – como nos diz Calvino.

            Como está seu relacionamento com Deus? Pense nisso.



Sem. Christofer F. O. Cruz

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